Resurgencia

Entendendo algumas variáveis controladoras da ressurgência

 

Resurgencia

Texto por Lucas Codina de Souza

Na busca da compreensão do comportamento humano, uma série de questões sobre atos considerados irracionais surgem. Por exemplo, parece incompreensível observar que um indivíduo anteriormente recuperado do consumo de drogas, “livremente” volte à repetição do consumo destes produtos nocivos. Por que voltamos a agir de uma maneira a qual não mais nos comportávamos?

No que tange a Análise do Comportamento, as descrições comportamentais se pautam em relações dinâmicas entre indivíduo e ambiente (Baum, 2006). Dessa forma, para se compreender comportamentos problema, a culpabilização da índole do sujeito não é uma opção, estando a resposta nas interações e disposições do meio com qual o indivíduo está inserido.

Epstein (1983; 1985) realizou múltiplos estudos nos quais demonstrava a possibilidade do “ressurgimento” de comportamentos outrora extintos (i.e., comportamentos que não mais ocorriam). A esse importante processo, deu-se o nome de ressurgência.

Ao relacionar a ressurgência como uma possível explicação para a o retorno no consumo de álcool e outras drogas, Podlesnik, Jimenez-Gomez e Shahan (2006) propoêm uma analogia entre ressurgência e recaída. Essa aproximação com a explicação de comportamentos clinicamente relevantes conferiu maior relevância aplicada para o estudo do fenômeno.

Grande parte dos conceitos e conclusões behavioristas possuem base empírica. Por este motivo, entender empiricamente os processos implicados na ressurgência é uma das principais formas de expandir e identificar o limite do fenômeno.

Na busca da compreensão dos fatores relacionados à ressurgência, Lieving e Lattal (2003) executaram uma série de 4 experimentos com pombos. Investigando os efeitos da recência, replicação e da retirada de reforços na ressurgência.

Por essa razão, indico o artigo de Lieving e Lattal (2003) para interessados no tema. A compreensão da ressurgência pode ser uma analogia não só à recaída no uso de substância, mas pode ser o mesmo processo envolvido na explicação do retorno de outros comportamentos como comportar-se mal na escola e agredir fisicamente ou moralmente o parceiro sexual. Boa leitura!

 

 

Referências

Baum, W. M. (2006). Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. Porto Alegre: Artmed.

Epstein, R. (1983). Resurgence of previously reinforced behavior during extinction. Behaviour Analysis Letters, 3, 391 397.

Epstein, R. (1985). Extinction-induced resurgence: Preliminary investigations and possible implications. Psychological Record, 35, 143–153.

Lieving, G. A., & Lattal, K. A. (2003). Recency, repeatability, and reinforcer retrenchment: an experimental analysis of resurgence. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 80 (2), 217-233.

Podlesnik, C. A., Jimenez-Gomez, C., & Shahan, T. A. (2006). Resurgence of alcohol seeking produced by discontinuing non-drug reinforcement as an animal model of drug relapse. Behavioural Pharmacology, 17, 369-374.

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